quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sobre o nada

Existe um meio certo de se começar uma crise. É dizer: "Por quê?"

Eu me encontro aqui já muito avançada deste perigoso início de questionamento. E a conclusão foi... vazia. E por ser o vazio assim como é, eu resolvi pensar sobre ele. E nada mais além dele. Para isso, preciso reescrever a primeira frase do texto. Existe um meio certo de se começar uma crise. É perceber - o vazio.

Me traz um nó apertado pensar no porquê do vazio ser o que é. O vazio, por suas características e propriedades, quase físicas, é igual a nada. Um vácuo? Então por que será que ele enche nossas cabeças? Nosso corpo, as juntas e os músculos do joelho, as olheiras e as veias da mão? Por que o vazio, sendo um nada que só ele, me ocupa tanto, me deixa tão saturada, a ponto de ficar nauseada só com o seu cheiro? Vazio não devia ter cheiro... Por que ele continua transbordando no meu dia, inundando a minha cama de ócio, de preguiça e tristeza? É de se concluir que a inexistência de algo pode ser muito mais penosa do que a própria existência de alguma coisa. Porque o vazio é justamente a ausência de tudo. A presença de nada. E essa falta, material ou não, incomoda muito mais do que algo que possa estar, de fato, ali. É tão mais desesperador assim não enxergar nada ao redor? Não seria muito pior ser bombardeado de informações, se perder em meio a tantos estímulos, não sabendo retomar suas próprias rédeas, por causa de um CHEIO?

Não.

O vazio, definitivamente, ganha do cheio. Por causa do vazio, eu não presto atenção no cheiro de orégano. Não sou capaz de partir laranjas ao meio e fazer o meu suco favorito. Não ando descalça por prazer, e sim por descaso. É totalmente diferente, notem. É nele que eu não vejo os raios vermelhos que se formam entre o azul no fim da tarde. É com ele que eu me deixo cair de um jeito aleatório no sofá, afastada da TV e de qualquer outra coisa que dê sentido ao fato de estar no sofá. Um livro, um café, um cigarro, uma companhia. Nada. Apenas o sofá. E o vazio. É por causa dele que eu esqueço de dar importância. Importância a coisas óbvias e vivas. Esqueço também de pagar contas. De dormir. Esqueço da minha risada. No vazio, eu não me apaixono. Eu não... me apaixono. No vazio eu não faço o que mais deveria fazer. Viver. O que eu mais deveria fazer é ser louca por você. E eu sou. Uma louca vazia. Eu sei o que está aqui. Mas o vazio é tão grande, é tão denso, de uma densidade que não é minha, que toma todo o meu tempo de ser feliz e cheia. Com você.

Então não podemos pensar que, quando estamos vazios, precisamos de algo para nos motivar. Não precisamos de nada para nos ocupar, na verdade. Tampouco para nos preencher. O vazio, em si, já preenche cada maldito buraco da alma. Fica tudo bem cheio de nada. E esse nada que se torna cada vez mais intragável com o passar das horas, como se eu estivesse a ponto de ter uma overdose de nicotina, me consome sem piedade. E como uma amante devassa, eu deixei ele me ter por completo.

Finalizando tais dores invisíveis, eu agora fiquei na dúvida... Eu estou cheia de vazio ou vazia de cheio? Uma coisa é fato: engano nosso pensar que o nada e o vazio são essências da ausência. Ambos são, na verdade, uma massa cinzenta e concreta, grossa e densa que nem cimento, que assenta-nos a alma. Nos deixando imóveis. Nos deixando inúteis.

Algo tão estufante quanto miolo de pão puro e água juntos.

do meu amoR (Mariana Perrelli)

Este texto dela diz tanto de mim que não me sobra qualquer coisa para dizer.

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