sexta-feira, 3 de julho de 2009

A (minha) vida como ela é

Gente, meu irmão de 7 anos está apaixonado. Simples assim. Para quem não sabe ou não conhece, tenho 2 irmãos: o Lucas (6 anos) e o Pedro (7 anos). Então, a-p-a-i-x-o-n-a-d-o! A menina se chama Luiza. É da sala dele na escola, o par dele na quadrilha e, como se não fosse suficiente, é nossa vizinha. Bom, quarta-feira foi o último dia de aula e ficou combinado que ontem, quinta, deixaríamos ele convidar a menina para vir brincar aqui em casa. Quando ele foi chamá-la, ela não pode vir. Ele entrou em casa de cabeça baixa e se sentou no sofá. Eu perguntei o porquê de tanta tristeza e ele me disse:
"-Hoje nada mais vai me fazer sorrir ou me deixar feliz, Marina".
Gente, juro! Com essas palavras! Eu gargalhei, internamente, óbvio! Mas é isso. E quando a Luiza veio chamar aqui na porta (coisa de interior, né?, chamar no portão...), ele foi atender saltitando! Ficou tão feliz que nem sei explicar. Pensei: gente, tadinho, ele é meu irmão mesmo. Me lembro da minha paixonite da infância. Eu era mais nova que ele, inclusive. Eu e uma amiga do pré (na época era pré) enchemos a lancheira de um menino da nossa sala de beijinhos. O problema? Estávamos de batom vermelho. Resumo da obra: fomos para a diretoria, fomos obrigadas a limpar aquilo com álcool e os pais foram convocados. Que saudaaaaade me deu de quando as coisas eram assim. Esse era todo o meu problema naquele momento, nenhum outro! Porque crianças tem a visão privilegiada, né? Não precisam enxergar tudo o que a gente enxerga e ainda são protegidas por nós. Ai, só sei que isso tá extremamente divertido.

E, da mesma forma que a tendência à paixões avassaladoras é característica genética, outras coisas também não mudam. E me irritam por não mudar. É complicado ter um tirano de emoções dentro de casa. Porque alguém que não cumpre seus compromissos como deveria, não pode mesmo receber outro nome. Eu, Marina, não sofro mais com isso. Foi-se o tempo de eu ficar deprimida, ou ser apaixonada por futebol como tentativa de aproximação, ou me preocupar em agradar. Hoje temo por eles, pelos meus irmãos. E pelo buraco que se faz na gente quando percebemos as ausências. De amor, de cuidado, de presença. O pouco que faz, faz deixando claro que é por obrigação. A cara é sempre fechada. O humor é sempre ruim. Dentro de casa, óbvio. Com os amigos da rua é, e sempre foi, o mais querido. Meu coração aperta por ver gente pequena mendigando atenção, assistindo à cenas de bebedeira e descaso. Eu, penso, tive a melhor saída disso tudo: odeio bebidas alcoólicas, ODEIO, tenho aversão; sinto amor, demonstro amor, ajo com amor; consigo pensar nos outros, pesar a forma como se sentirão; procuro ajudar e fazer as coisas com o coração. Dá um alívio grande saber que consegui ir ao extremo oposto. Mesmo que o extremo não seja o ideal, porque ainda acho que o equilíbrio é a alma do bom negócio. Mas perfeição passa longe daqui, sem dúvida. Agora... e eles? E os pequenos grandes amores da minha vida? Será que vão conseguir se desligar disso sem maiores feridas? Será que vão conseguir se desligar disso? A gente vai fazendo a nossa parte todos os dias. Mesmo que não seja o melhor, é o nosso melhor. E isso é o mais importante: que eles sintam que tem gente que faz por eles sempre o melhor que pode. Eles terão valores. Terão noções importantes de família e amor. E terão, também, de aprender a conviver com este buraco, que ninguém pode ocupar.

Por outro lado, tenho que reconhecer, existe um anjo. E se, hoje, tenho os valores que tenho e sou da forma que sou, devo a ela. A grande fortaleza, o grande exemplo de amor e garra. Tem suas limitações e dificuldades, claro. É alguém diferente de quem eu quero ser, diferente de mim. Mas é nossa grande base de carinho, dedicação, sabedoria e amor.

1 comentários:

Cibele Grillo disse...

Vai ser lindo, qdo chegar o dia, em que por tra's (e apesar) da ause^ncia do tirano e da sabedoria do anjo, desabrochara' com toda a verdade do mundo, a linda e real Marina.
bjs e saudades,
Cibele

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